Hospital de Foz usa plasma hiperimune no tratamento de Covid
Modificado em 29/08/2020, 12:02
O Hospital Ministro Costa Cavalcanti (HMCC), mantido pela usina de Itaipu, realizou a primeira transfusão de plasma hiperimune de Foz do Iguaçu e região para tratamento de paciente com a covid-19. O procedimento foi feito na quarta-feira (26). O nome do receptor é mantido em sigilo e a evolução é acompanhada de perto por uma equipe de especialistas.
Uma das mais importantes unidades hospitalares do Sul do Brasil, o HMCC atende pacientes particulares e também do Sistema Único de Saúde (SUS). Para os casos da covid-19, a Itaipu repassou recursos para a criação de uma ala exclusiva de UTI. Em situações de comorbidades nas quais o hospital é referência, o tratamento é de graça para a população. A medida atende diretriz do governo federal.
Para o diretor-geral brasileiro de Itaipu, general Joaquim Silva e Luna, "esse tratamento de ponta coloca mais uma vez o HMCC na vanguarda na área de saúde. Nossos investimentos no hospital se traduzem em cuidados especiais no atendimento de nossa gente, sempre com carinho, respeito e muita responsabilidade".
O tratamento, um dos mais avançados do mundo, utiliza o plasma hiperimune ou convalescente para “ajudar” o sistema imunológico de quem está doente, internado e em estado grave. Caso preencha rigorosamente todos os critérios clínicos, o doente pode receber o plasma com anticorpos extraído do doador. A administração é feita meio de infusão sanguínea.
O plasma é a parte líquida do sangue coletada dos pacientes que se recuperaram da infecção causada pelo novo coronavírus e não apresentaram sintomas após 45 dias. Depois deste prazo, eles podem doar o material biológico.
Isso porque o sistema imunológico da pessoa que foi contaminada pelo vírus produz proteínas na corrente sanguínea para combater a doença – os chamados anticorpos. Sendo assim, após a recuperação do paciente infectado, os componentes sanguíneos com estes anticorpos podem ser coletados e utilizados em outras pessoas para auxiliar no tratamento da covid-19.
“Os estudos apontam que o uso desta técnica diminui a replicação do vírus no paciente e seu sistema imunológico consegue responder melhor a agressão do vírus”, afirmou Alessandra Giordani Ritt, médica hematologista e responsável técnica do Hemonúcleo de Foz.
A decisão de aplicar a terapia neste primeiro paciente foi feita por um corpo clínico especializado do hospital, segundo o diretor técnico do HMCC, o médico Rodrigo Romanini. A equipe médica foi composta pela intensivista Gisele Dal Cherri, pelo coordenador médico German Pignolo e pela hematologista Alessandra Ritt.
Eles revisaram todos os critérios técnicos, éticos e legais, e iniciaram o tratamento. A avaliação é que, até o presente momento, a transfusão obteve sucesso. "Assim como grandes instituições no Brasil e no mundo, o Hospital Costa Cavalcanti busca incansavelmente por inovadores tratamentos em prol do melhor desfecho possível no tratamento dos nossos pacientes", disse Romanini.
Projeto-piloto
A Fundação de Saúde Itaiguapy, administradora do HMCC e responsável pelo Hemonúcleo de Foz do Iguaçu, faz parte de uma iniciativa do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Paraná (Hemepar). O projeto-piloto para utilizar anticorpos do plasma do sangue de curados do novo coronavírus começou em 21 de julho. “Este é um tipo de terapia já conhecido e utilizado para tratamento de outras patologias, como o H1N1”, explicou Alessandra.
Segundo a especialista, trata-se de um tratamento promissor no combate à doença. “Mas nem todo paciente com a covid-19 pode receber plasma hiperimune”, completou. O receptor precisa estar internado em alguma instituição hospitalar, apresentar estado grave, assinar um termo de consentimento ciente dos riscos e benefícios da terapia, além de atender todos os critérios definidos pelo Hemepar.
"Estamos acompanhando os mais modernos protocolos e todas as novidades para enfrentamento da doença”, afirmou o diretor superintendente do HMCC, Fernando Cossa. “Com muita cautela e responsabilidade, oferecemos a Foz de Iguaçu e região o auxílio necessário para a retomada econômica e a abertura do comércio.”
Desde o início da pandemia, a Itaipu Binacional investiu R$ 24 milhões na Fundação Itaiguapy para a criação de uma ala exclusiva de atendimento de covid-19, com 20 leitos de UTI, sete leitos de semi-intensiva e 20 leitos de unidade de transição, além da aquisição de testes de Reação em Cadeia de Polimerase (PCR), medicamentos e respiradores para atender a demanda da região.
Até 27 de agosto, o HMCC havia concedido 82 altas a pacientes recuperados das complicações causadas pelo novo coronavírus. Atualmente, o hospital tem 16 pessoas internadas na Unidade de Tratamento da Tratamento Covid-19 e outras quatro na unidade de transição. O hospital também já aplicou mais de 15 mil testes RT-PCR para diagnóstico do vírus Sars-CoV-2.
Doação de plasma
Ainda que seja bem-vinda, a doação de plasma de pessoas recuperadas da covid-19 ocorre após o contato do hospital com doadores em potencial. A médica Alessandra Ritt reforça a importância dos curados da covid-19 não irem espontaneamente até o Hemonúcleo.
“De forma sigilosa e ética, os técnicos responsáveis recebem a informação de quais são os pacientes recuperados da doença elegíveis para a doação de sangue”, explicou.
A partir deste levantamento é que a equipe entra em contato com os possíveis doadores. “Somente após a realizar detalhadamente a pré-triagem, havendo o cumprimento de todos os critérios, agendamos a doação de sangue”, disse. Segundo ela, os horários estão sendo agendados para evitar aglomeração.