Caso Mariana Ferrer: Ministério Público cria ‘estupro culposo’, e defesa humilha a jovem; ASSISTA
Modificado em 04/11/2020, 10:17
O desfecho do caso de Mariana Ferrer segue causando revolta para quem pediu justiça pela jovem. Ainda em setembro, o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) voltou atrás e declarou improcedente, por falta de provas, a denúncia contra André de Camargo Aranha, acusado de estuprar a blogueira. Vale lembrar, no entanto, que exames realizados por autoridades comprovaram que houve, sim, conjunção carnal e ruptura do hímen da vítima, assim como o sêmen do homem de 43 anos foi encontrado na calcinha da influencer.
O promotor Thiago Carriço de Oliveira, por sua vez, aceitou a argumentação de que o acusado cometeu o que foi denominado como “estupro culposo”, que seria um ‘estupro em que não há a intenção de estuprar’. A infração não tem nenhum precedente. Trata-se de uma sentença inédita na história desse país, e de um crime jamais previsto na lei. Como ninguém pode ser condenado por uma infração que não é definida judicialmente, o empresário foi absolvido.
Mariana foi constantemente humilhada durante o processo que determinou a inocência de André Aranha.
O site The Intercept Brasil teve acesso ao vídeo da audiência em questão, realizada remotamente em julho. Na sessão, o advogado Cláudio Gastão da Rosa Filho, de André de Camargo, chegou a mostrar cópias de fotos sensuais produzidas pela jovem enquanto modelo profissional. O gesto foi interpretado por internautas como uma tentativa de se escorar no datado e misógino argumento de que a mulher, ao usar roupas curtas, pede para ser violada ou estuprada. Ferrer apontou uma das fotos usadas pela defesa do réu, alegando que a imagem teria sido adulterada. “Essa imagem aqui foi manipulada?”, questionou ele, segurando outro registro.
“Muito bonita [a foto] por sinal, como o senhor disse, né? Cometendo assédio moral contra mim. O senhor tem idade pra ser meu pai, o senhor tem que se ater aos fatos”, repreendeu a blogueira. No entanto, Gastão endureceu as acusações e agressões infundadas. “Graças a Deus eu não tenho uma filha do teu nível e também peço a Deus que meu filho não encontre uma mulher feito você. Não dá pra tu dar o seu showzinho. Teu showzinho você vai lá dar no Instagram depois, pra ganhar mais seguidores. Tu vive disso”, disparou.
Insistente, o advogado seguiu menosprezando a jovem. “Mariana, vamos ser sinceros, fala a verdade. Tu trabalhava no café, perdeu o emprego, está com o aluguel atrasado há 7 meses, era uma desconhecida. Isso é seu ganha pão, né Mariana? A verdade é essa. É seu ganha pão, a desgraça dos outros. Manipular essa história de ser virgem…”, comentou, sendo interrompido pelo juiz Rudson Marcos. “Isso é questão de alegação”, avisou ele.
Sem apresentar nenhuma ligação com o crime, novas fotos de Mariana foram exibidas. “Só pra mostrar, essa última foto que ela mandou o defensor público juntar, e que ela diz que foi manipulada… essa foto aqui foi extraída de um site de um fotógrafo, onde (sic) a única foto chupando dedinho e com posições ginecológicas é a dela. Não tem nada demais essas fotos?”, questionou, como se isso fizesse alguma diferença num processo, a priori, sério. “Mas eu estou de roupa, não tem nada demais mesmo! A pessoa que é virgem, não é freira não, doutor. A gente está no ano de 2020”, rebateu a vítima.
“Não estou dizendo que é freira. Mas por que você apagou essa foto então? E só aparece essa tua carinha chorando… só falta por uma auréola na cabeça. Não adianta vir com esse teu choro dissimulado, falso e essas lágrimas de crocodilo”, acusou a defesa do réu. Ao perceber o estado emocional de Mariana, o promotor ofereceu um tempo para a moça se recompor e beber uma água, e disse que se preciso, suspenderia a audiência.
Aos prantos, Mariana desabafou: “Eu gostaria de respeito, doutor, excelentíssimo, eu tô implorando por respeito, no mínimo! Nem os acusados são tratados da forma que estou sendo tratada, pelo amor de Deus, gente! Nem os acusados de assassinato são tratados como estou sendo tratada! Eu sou uma pessoa ilibada, nunca cometi crime contra ninguém”. Mesmo muito abalada, a influencer permaneceu na audiência até o fim.
Por meio da assessoria de imprensa, o Ministério Público informou que o promotor Thiago Carriço de Oliveira se manifestou ao fim da segunda audiência (cujas imagens a reportagem não teve acesso) em relação aos excessos do advogado Cláudio Gastão. Em comunicado ao The Intercept, a defesa ressaltou “que o papel do advogado é ser intransigente na defesa dos interesses de seu cliente”.
“Gastão Filho informa que, em sendo um processo que correu em segredo de Justiça, não irá comentar sobre trechos das referidas audiências, que da forma abordada pelas perguntas, estão fora do contexto. Reforça ainda que todo posicionamento adotado foi para elucidar os fatos e mostrar a verdade perante a falsa acusação de ter sido drogada e de estupro levantada por Mariana”, disse também o advogado.
Com informações, Hugo Gloss.