Artista se inspira na tragédia de Brumadinho para recriar mural
Modificado em 10/02/2020, 09:09
Uma das paredes do pátio interno do Museu Casa Alfredo Andersen está ganhando traços novos e ainda mais instigantes. Por conta do rompimento da Barreira de Mariana (MG), que ocorreu em 5 de novembro de 2015 e deixou um rastro fatal de 19 mortos, foi criado um grande mural a seis mãos, pelos artistas Marcelo Le, Luiz Lavalle e Bruno Romã.
À época não se imaginava que pouco tempo depois, em janeiro de 2019, no município de Brumadinho, também em Minas Gerais, se romperia outra barragem, causando uma tragédia ainda maior, com um número total de 270 vítimas fatais.
Como a pintura nos muros internos do Museu já começava a apresentar sinais de desgaste pela ação das condições climáticas, Marcelo Le, com o apoio da direção do museu, decidiu não apenas retocar a obra, mas ampliá-la, contemplando os fatos ocorridos no ano passado, e acrescentando a ela uma nova narrativa.
O diretor do Museu, Luiz Gustavo Vardanega Vidal Pinto, enfatiza a iniciativa dos artistas, não só pelos temas abordados, como também pela qualidade técnica, observando que é importante o espaço museal dialogar com o público através de reflexões atuais, pois a arte também possui uma função social imprescindível para sociedade.
Nascido em Araraquara, no interior de São Paulo, há 43 anos, Marcelo Le, cuja formação passou tanto pelas artes visuais quanto pela arquitetura, publicidade e engenharia, há anos vem se dedicando exclusivamente à arte urbana. Embora utilize tinta em spray, prefere não se definir como grafiteiro, porque também emprega outras técnicas e materiais, como tinta de rolo.
“Sou um muralista”, diz Marcelo, que traz para seu trabalho referências do cubismo de artistas como os espanhóis Pablo Picasso e Juan Miró, e o abstracionismo do russo Wassily Kandinski, mas também da arte e da literatura de cordel no Nordeste brasileiro. Ele também cita Speto, como é conhecido o artista do grafite paulista Paulo Cesar Silva, cuja arte pode ser vista em paredes e muros ao redor de Curitiba.
Para a criação do mural, Marcelo, que está realizando o trabalho voluntariamente, com recursos próprios, diz ter recorrido, como inspiração, à lenda hebraica do Golem, que, segundo a tradição mística do judaísmo, seria um ser, criado artificialmente, que ganha vida e, em vez de cumprir sua função original, benéfica, se volta contra o criador, assim como as barragens em Minas Gerais.
SERVIÇO: Museu Casa Alfredo Andersen - Rua Mateus Leme, 336. Centro. Curitiba/PR.
(41) 3222-8262 - www.mcaa.pr.gov.br
Visitação de terça a sexta-feira das 9h às 18 horas. Sábados, domingos e feriados das 10h às 16 horas.
Entrada gratuita.