Sem saberem Português, irmãs haitianas usam a tecnologia para aprender em escola do Paraná
Modificado em 16/08/2019, 11:16
Em abril, quando entrou na sala de aula de sua turma do 1º ano do Ensino Médio, a professora de Língua Portuguesa Karina da Cruz teve uma surpresa: três irmãs haitianas recém-matriculadas, que não entendiam uma única palavra de português, precisavam aprender. Foi diante dessa necessidade imediata que a professora do Colégio Estadual Professora Edimar Wright, em Almirante Tamandaré, teve a ideia de recorrer à tecnologia para ajudar as novas estudantes.
Até então, as irmãs Floranta, Marie Florence e Marie Sophie Noel, há pouco tempo no Brasil, dominavam apenas a língua crioula haitiana. Elas dependiam do irmão mais novo, o Jean, de 10 anos, que fazia o papel de intérprete, para qualquer tipo de interação verbal. Porém, quando ele não estava ficavam praticamente incomunicáveis.
Karina conta que as irmãs apenas copiavam o conteúdo em sala, mas não conseguiam absorvê-lo por não terem domínio da língua portuguesa.
SOLUÇÃO
Para estabelecer um diálogo mínimo, a professora cedeu o próprio aparelho celular para que auxiliá-las a compreender o que estava sendo falado com o uso de uma ferramenta online de tradução.
“Eu coloquei para traduzir do português para o haitiano, que tem uma semelhança com o francês. Falei que estava muito feliz por tê-las ali na escola e que elas eram muito bem-vindas. Elas entenderam perfeitamente e sorriram. Foi a primeira vez que vi um sorriso no rosto delas”, lembra a professora.
A ideia deu tão certo que a coordenação do colégio cedeu um notebook para cada uma das alunas. Para melhorar o rendimento escolar, a turma foi transferida de uma sala comum para um espaço com internet wi-fi. A mudança possibilitou às três estudantes acompanharem o restante do grupo com mais facilidade, aprenderem o conteúdo e não apenas copiarem a matéria.
Antes da chegada das novas colegas, a coordenação do colégio fez uma adaptação com os outros alunos. Mesmo assim, a conversação não era simples. Agora, quando querem dialogar, os outros estudantes usam o mesmo método da professora e já não dependem exclusivamente do irmão intérprete.
De acordo com a docente, o avanço no aprendizado é significativo. A melhoram na disciplina de português foi de aproximadamente 50% e nas demais disciplinas também é possível perceber a evolução de conhecimento.
“Hoje elas não são apenas copistas. Toda terça-feira eu dou uma hora de reforço para elas, que já começaram a conversar sobre outros assuntos e a compreender boa parte do que eu falo. Elas melhoraram não só na disciplina que eu ensino, mas em todas as outras”, destacou Karina.